os hambúrgueres do cais da pedra

    Primeiro, vamos aos defeitos que isto vai ser rápido:

    1 – Meus senhores, estamos no século XXI, não fiquem parados no tempo: um restaurante como o vosso ter um site que é apenas o horário e os contactos não se admite.

    2 – Meus senhores, estamos no século XXI, mas não queiram ser modernos demais: um restaurante como o vosso não aceitar reservas ao almoço não se recomenda.

    E é isso. Não temos mais nada a dizer. Boa tarde e até amanhã.

    Nãaaaaa, não se vá já embora. Agora vamos falar das coisas boas. E isto vai demorar. Começando pelo horário (aberto até à meia-noite ou até às 2h da manhã), passando pela animação (há música boa e DJ) e continuando no resto (gins, cocktails e chás gelados fantásticos).

    O serviço

    Chegámos em bando. Não apenas os quatro elementos titulares da nossa equipa de futsal, mas também os suplentes, que é, como quem diz, um amigo para cada um dos nossos filhos. Somando esta turba a um casal de primos, dá a módica quantia de 12 abdómens sentados à mesa. É o suficiente para assustar qualquer empregado inexperiente ou qualquer gerente empertigado. Mas não bastou para abalar o profissionalismo dos senhores do Cais da Pedra. Mesmo não tendo nós reserva. Mesmo tendo uma energia suficientemente assustadora. E mesmo chegando por volta das nove da noite. Está certo que era um dia de semana, mas o restaurante estava quase cheio. E isso não impediu a empregada de sorrir, ser simpática e ajudar: juntou mesas, arrastou cadeiras, foi prestável e eficiente. É assim um serviço bom. E é assim o serviço no Cais da Pedra. Ao longo de todo o resto do jantar, foram rápidos, atenciosos e amáveis. A turba agradece.

    O ambiente

    Tem duas hipóteses: esplanada com vista deslumbrante ou interior com vista deslumbrante. Eu sei que pode ser considerado um bocadinho repetitivo, mas eu gosto. E não é tudo. O espaço tem um pé direito gigante e uma mezzanine que acompanha um dos lados da sala. Tem janelas enormes e espelhos imponentes. É decorado com ferro, pedra e um bom gosto simples, moderno e eficaz. Os tampos das mesas fazem lembrar o balcão da cozinha da minha bisavó e os guardanapos a toalha de piquenique da minha tia-avó. Tudo isto tem um charme e uma simplicidade reconfortantes. A cozinha está aberta para a sala e os candeeiros são sofisticados, o que lhe dá um toque de modernidade. É seguramente uma das salas de restaurante mais bonitas de Lisboa. Eu sei que disse isto há pouco tempo em relação ao Darwin’s, mas é verdade: Lisboa está com restaurantes lindos.

    A ementa 

    O couvert

    Azeitonas marinadas, pão de mafra quente (adoro pão quente, mas não sou grande fã de pão de mafra – prefiro o alentejano), azeite e vinagre balsâmico e uns croquetes de novilho acabados de fritar (deliciosos): simples e bom.

     

    As entradas

    Há sopas, carpaccios, umas saladas e até uns folhados de queijo de cabra. É capaz de ser bom (não discuto), mas quando saio para comer hambúrgueres não saio para comer carpaccio. Por isso passei.


    Os hambúrgueres

    Chegámos ao que finalmente interessa. Todos os hambúrgueres são feitos com carne maronesa – isso já é alguma coisa. E alguns são feitos com foie gras, queijo da ilha ou maionese de trufas – e isso é muito mais. Eu provei três diferentes, com medo de estar a perder alguma coisa importante.

    Primeiro, o hambúrguer de salmão em bolo do caco de alfarroba, com cebola roxa, tomate cherry e molho de iogurte grego e cebolinho. A moda do bolo do caco já enjoa ligeiramente, em especial quando o bolo do caco parece uma bola de mafra achatada da véspera (sim, já vi isso por aí). Mas o bolo do caco de alfarroba é diferente, e consegue surpreender no meio desta intoxicação madeirense. Quanto ao recheio, o molho de iogurte grego com cebolinho corta na perfeição a gordura do salmão. É uma óptima solução para começar a refeição se não pedir entrada e se dividir por três.

    Depois, o hambúrguer Cais da Pedra, com queijo da ilha, cebola caramelizada e compota de tomate cherry e manjericão. É uma mistura fantástica e claramente o meu preferido. O queijo da ilha é intenso, a compota é doce e a cebola caramelizada é um pormenor maravilhoso.

    Finalmente, o Rossini, com foie gras e maionese de trufa preta. Nesta fase, já tinha provado paladares demais. O foie gras é provavelmente uma das sete maravilhas gastronómicas do Mundo e a trufa um dos meus luxos favoritos. Mas a mistura dos dois e, ainda por cima, com maionese pelo meio é ligeiramente enjoativa. São sabores e calorias a mais para um único prato.

     

    As batatas fritas

    Enganam. São grossas, têm casca… mas também são óptimas: estaladiças, leves e saborosas.

    A sobremesa

    Há brownies, há crumbles de maçã, há mousses de chocolate e até há quem tenha conseguido comer isso. Mas eu fiquei pelo carpaccio de abacaxi com sorbet de côco. É bom e menos calórico. Ou, pelo menos, parece.

    A surpresa

    A nova ementa deste ano tem cinco pequenos-almoços para o fim-de-semana e os feriados, quando o restaurante abre às 10h da manhã: americano, continental, light e dois tipos de ovos benedict – com fiambre ou salmão fumado ou com espinafres frescos e cogumelos. É uma ideia – para um dia em que consiga resistir aos hambúrgueres.

     

    O óptimo 

    Os hambúrgueres

    O bom

    O serviço

    O mau

    Não haver reservas para o almoço

     

    Um bom jantar para si, onde quer que esteja,

    Ele

    8 comentários em “os hambúrgueres do cais da pedra

    1. Existem dois restaurantes Cais da Pedra? Estive num completamente diferente. Comida banal, péssimo atendimento e caro pela comida apresentada.

      PS: Parabéns pelo blog. Sou um leitor assíduo, até agora anónimo.

    2. Conheço ambos os restaurantes – vista linda, sala gira, esplanada imprópria para um almoço de verão, serviço péssimo e comida que não justificava o tempo de espera.

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