peixe dos açores + carne dos açores + um chef talentoso só podia dar nisto: um restaurante novo e fantástico em lisboa

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    – Então e a dieta está a resultar?

    – Está!

    – Quanto é que perdeste?

    – Quase um quilo.

    – Ah… Ok…

    Chegar a um restaurante à hora marcada e ficar mais de 15 minutos à espera de um amigo tem como recompensa poder ouvir diálogos tão interessantes como este entre uma mulher curiosa e um homem profundamente optimista com o seu peso. Principalmente se o espaço a separar as mesas não for maior do que um pé do Marques Mendes. E é isso que acontece no novíssimo restaurante Rabo d’Pêxe, em Lisboa.

     

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    O ambiente

    Especialmente dedicado aos produtos dos Açores (a carne e uma parte do peixe vêm de lá), o Rabo d’Pêxe abriu em Dezembro passado, na Avenida Duque de Ávila, perto do Saldanha, com uma sala sóbria e uma esplanada coberta e rodeada por vidro. À entrada, existe uma zona de bar com um balcão e uns sofás. Depois tem algumas mesas no interior e, a separar esta área da esplanada, está um balcão com o peixe exposto, onde pode escolher logo o que quer comer se optar por peixe grelhado.

    A decoração é elegante e discreta, mas as cadeiras de madeira (em particular as da esplanada, onde ficámos) são frias demais. Eu fui almoçar num destes dias de sol de Inverno (peço desculpa pela associação à telenovela, mas estava distraído) e ainda ponderei sair para ir comprar uns collants à Robin dos Bosques, mas achei que era capaz de ser demais.

    De resto, a esplanada estava cheia e um pouco confusa, o interior estava praticamente vazio.

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    A ementa

    A lista está dividida em quatro áreas: mar (peixe e marisco), carne, japonês (gunkans, sashimi, hot rolls, etc.) e surf and turf (pratos que combinam peixe e carne). Mas o melhor é começar pelos preliminares.

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    O couvert

    É aqui que chegam as primeiras surpresas (€2,50 por pessoa). Não por causa do pão, que é um consistente pão saloio, nem por causa do azeite, que não é mais do que razoável, mas essencialmente por causa das duas manteigas: uma de anchovas e outra de algas. Antes de começar já a torcer o nariz enquanto diz que não gosta de anchovas, deixe-me só fazer um anúncio à nação: estamos perante uma absoluta maravilha. Tem tudo o que a anchova tem de bom e nada do que faz 90% da população dizer que não gosta deste peixe. Além de ser cremosa e fresca, tem um delicioso sabor a peixe que é totalmente surpreendente. A manteiga de algas sabe claramente a mar, mas se tivesse um pouco mais de sal ficaria melhor.

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    As bebidas

    Almoço em dia de trabalho não pode ter álcool, sob pena de passar o resto da tarde a cabecear contra o computador. E, por isso, costumo optar entre uma água fresca ou uma Coca-cola Zero (Ela proíbe os refrigerantes com açúcar). Aqui não tenho opção.

    Ao contrário daquilo que eu já julgava impossível numa sociedade desenvolvida pós-época do Regresso ao Futuro, ainda há restaurantes novos que fazem a pergunta fatal:

    – Pode ser Pepsi?

    É claro que não pode ser Pepsi, senão tinha pedido uma Pepsi.

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    Os pratos 

    Ultrapassado esse pequeno drama com uma água fresca, chegou a hora da comida.

    A ideia aqui é partilhar. E nós começámos com uma deliciosa cavala fumada servida em cima de um carpaccio de courgette e salpicada com arandos e mirtilos (€6). Além de vir com um fio de azeite, o peixe é óptimo, em lombos fininhos, com um sabor a fumado que lhe dá um toque inesperado. A courgette e as frutas acrescentam um sabor adocicado que faz um contraste perfeito.

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    A seguir experimentámos uns bombons dos Açores (€8) que o meu caríssimo amigo (pareço o Rogério Alves a falar…) gostou mais do que eu. No fundo, trata-se de umas bolinhas de novilho picado, recheadas com queijo da ilha e panadas. Vêm para a mesa com um agradável molho sweet chili, que é feito no próprio restaurante, e com uns fantásticos filamentos de malagueta por cima. Tudo isto é maravilhoso, não fosse o pormenor de as bolinhas de novilho picado terem a consistência de umas mini-almôndegas, prato de que eu fujo desde que a minha querida Mãe Mistério o servia, dia sim, dia não, ao longo de grande parte da minha adolescência. No entanto, o molho ajuda a tornar as bolinhas um bocadinho menos pesadas e o queijo da Ilha derretido no interior quase me converteu num almondeguista confesso.

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    O almoço continuou com um bom tártaro de novilho acompanhado com uns chips de batata doce divinais, uma gema de ovo curada e um fabuloso molho de wasabi (€10). O único defeito de todo este prato é a quantidade excessiva de fios de gordura que se vêem na carne e que a tornam mais rija do que eu gostaria. De resto, a gema de ovo curada em molho de soja é deslumbrante, com um salgado que se mistura na perfeição com a carne envolvida no picante do wasabi. Os chips de batata doce, que ajudam a cortar os sabores mais fortes, estavam perfeitos: fininhos, estaladiços e secos.

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    A refeição só acabou depois de eu poder experimentar uma das especialidades japonesas reinventadas com um toque açoriano, perante os olhos esbugalhados de incredulidade do meu parceiro de mesa. Logo que o consegui convencer de que não era comida a mais, optámos por um Red Hot (€7), um óptimo rolo quente e crocante com cinco peças feitas com salmão picante e queijo fresco dos Açores, uma combinação que atira o sushi de fusão para todo um novo mundo.

    E foi assim que chegámos à… à…. à…

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    …À sobremesa

    Nesta fase do almoço, o meu querido companheiro de repasto já olhava para mim como se eu fosse o garganta funda da restauração. Por isso, não tive outra alternativa que não fosse sugerir a partilha de um doce para não parecer mal. Ainda insisti no promissor tiramisú de avelã, mas ele não cedeu na torta de laranja recheada com maracujá e alfarroba. E confesso que, contra todas as minha dúvidas, fiquei rendido ao que me chegou às papilas gustativas. A torta é doce e saborosa e contrasta lindamente com a acidez do maracujá e a suavidade do crumble de alfarroba que vem espalhado pelo prato. A cereja no topo do bolo, neste caso, não é uma cereja, é uma finíssima fatia de laranja caramelizada e crocante.

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    O serviço

    Custou um pouco a marcar mesa – só atenderam o telefone à segunda tentativa – mas no restaurante o serviço foi sempre simpático e atencioso. Mais rápido na parte final do almoço, quando já estava menos gente sentada, do que no início, quando a sala ainda estava cheia. No entanto, nunca foi verdadeiramente demorado.

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    As crianças

    Não tem menu infantil. O mais próximo que encontra será o prego de novilho em bolo levedo, com pickles de pepino (€9). 

     

    O bom

    A cavala fumada com carpaccio de courgette

    O mau

    – Pode ser Pepsi?

    O óptimo

    A manteiga de anchovas

     

    Um óptimo peixe para si onde quer que os Açores estejam,

    Ele

     

    fotos: casal mistério; rabo d’pêxe

     

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