petisqueira matateu

     

     

    Confesse lá, hoje acordámos mais bem dispostos, não é verdade? Basta olhar para o telemóvel de manhã e ler aquelas duas palavras milagrosas: “quinta” e “feira”. Não, não vou falar da última feira de velharias da Quinta Grande, em Sintra. Vou falar daquele dia fantástico em que começamos a reduzir a velocidade, a fazer a aproximação à pista de aterragem que é o fim-de-semana, a entrar em modo de planador; aquele dia em que começamos a desligar os motores, em que os problemas do trabalho já não têm a mesma importância, em que as imbecilidades do chefe já não parecem tão graves; aquele dia em que já é possível jantar fora sem a confusão de uma sexta ou de um sábado. Sim, parabéns, você acabou de entrar no melhor dia da semana para sair. E, se estamos a falar em sair, temos alguém que devia conhecer. Leitor do Casal Mistério este é o Matateu; Matateu este é o leitor do Casal Mistério.

     

    Feitas as apresentações, vamos ao que interessa.

     

     

    O ambiente

     

    Primeira coisa que devia saber: o Matateu não é bem um restaurante nem sequer apenas o nome de um futebolista famoso do Belenenses. O Matateu é mais uma festa. Aqui há barulho, confusão e descontracção. Mas aqui também há boa disposição, simpatia e animação. Quando vai jantar ou petiscar ao Matateu, tem de se convencer que não vai ser atendido por empregados de farda, não se vai sentar em cadeiras forradas, não vai ouvir um: muito boa noite, bem-vindo ao Matateu. Isto é outra coisa. O que não quer dizer que seja mau, é apenas diferente. A decoração é toda evocativa da velha glória do Belenenses: há fotografias de Matateu nas paredes, há camisolas de Matateu nas molduras, há artigos sobre Matateu impressos nos individuais por baixo dos pratos. O restaurante fica em pleno estádio do Restelo, o que pode parecer assustador, mas acaba por ser um sítio divertido. Nós estivemos lá depois de um concerto de rock – e é esse o espírito com que lá deve entrar: descontraído, bem disposto e animado. Se for assim, vai gostar. Porque aqui tanto pode ficar sentado numa mesa como ao balcão e há quase sempre amigos dos empregados e do dono à conversa. Isso quer dizer que o serviço é mau?

     

     

    O serviço

     

    Não. Quer apenas dizer que o serviço é ligeiramente diferente do habitual. É um local de amigos. Podem esquecer-se da sua cerveja uma vez, mas estão sempre bem dispostos. E nota-se que fazem aquilo de que gostam, o que hoje em dia é uma raridade no perigoso mundo da restauração. O João Manzarra diz uma graça quando lhe traz o pedido e o empregado não faz má cara quando você pede para trocar de mesa a meio da refeição. Não é o serviço do Gambrinus, mas também não é o aborrecimento do Gambrinus. E tem outras vantagens: é rápido, é flexível, é agradável. Numa frase, é como se estivesse numa festa de amigos. Isso quer dizer que é perfeito?

     

    A ementa

     

    Também não. Uma festa de amigos é agradável, mas às vezes acaba a cerveja ou o whisky. Aqui acabou uma boa parte da ementa. Quando lá estivemos, não havia o petisco da semana, não havia os pastéis de bacalhau à Brás e não havia o tomate com mozarela. Mas havia outras coisas e, felizmente, não eram nada más.

      

    O couvert

    O pão é de Mafra, o que não é mau; e a manteiga é de alho e pimentos, o que é ainda melhor. Mas também podia ter vindo um queijinho de Azeitão… Podia, mas por acaso não havia.

       

    Os petiscos

    Depois das introduções, há as habituais lascas de batata (infelizmente moles e pouco estaladiças), a punheta de bacalhau com tomate e agrião (razoável, mas com este frio não é a altura ideal para pratos destes) e as agradáveis surpresas: os ovos mexidos com cogumelos e parmesão são deliciosos e vêm feitos mesmo no ponto (atenção que não é fácil fazer uns bons ovos mexidos que não saiam secos!) e o picapau de picanha é maravilhoso: é incrível como é difícil temperar a carne com picles sem a deixar com um sabor insuportável a vinagre.

     

     

     

    As sobremesas

    Tudo isto acabou com uma óptima mousse de chocolate com amêndoa torrada. Podia ter acabado com um promissor crumble de maçã e canela? Poder, podia (se houvesse tudo o que está na ementa), mas não era a mesma coisa.

     

    O óptimo – A descontracção, o ambiente e o picapau de picanha. 

    O bom – Os ovos mexidos com cogumelos e parmesão.

    O mau – A quantidade de pratos que não havia.

     

     

     

    E agora meta um cachecol azul ao pescoço e ponha-se a caminho do Estádio do Restelo. Não para ver a bola, mas para gritar golo se houver o picapau de picanha,

     

    Ele

     

    Deixe um comentário

    O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *