quer uma sugestão para almoçar neste fim-de-semana alargado? que tal o ichiban, o melhor japonês a que já fomos

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    Foi a primeira vez na sua agitada vida gastronómica que este corpinho laroca entrou num restaurante japonês, se serviu convenientemente de molho de soja e no fim da refeição não lhe tinha tocado. Não é que o molho fosse de qualidade duvidosa – até porque nem sequer o provei –, é que o restaurante de que estamos a falar chama-se Ichiban, é mais uma das obras de arte gastronómicas que o Porto tem para oferecer ao país e tem aquela que para mim é, neste preciso momento em que lhes escrevo esta bela prosa, a mais criativa e deslumbrante cozinha japonesa deste modesto rectângulo à beira-mar plantado (neste caso, plantado junto à foz do rio Douro). E o deslumbramento começa logo à chegada.

     

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    A ementa 

    O couvert

    Confesso que o couvert japonês é habitualmente, na minha humilde opinião de leigo, o mais fracote de tudo o que nos é trazido para a mesa. Mas repare que eu disse habitualmente. Porque no Ichiban não há habitualmentes: aqui ninguém é despachado com um pepininho japonês ou com uns fiozinhos de rábano para nos entreter a mandíbula enquanto esperamos pelos pedidos. Não senhor.

    Aqui fomos recebidos por uma inesperada salada de porco preto (€2) com pepino, cebola, cenoura e um óptimo molho cor-de-rosa que nem me atrevi a perguntar o que levava. E quando digo inesperada, tenho motivos para isso. Quando a simpática empregada japonesa me pousou o prato à frente, fiquei intimamente convencido de que o que estava ali era peixe desfiado: macio, leve, finíssimo. E só ao provar é que percebi que estávamos perante uma delícia muito mais complexa.

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    As entradas

    Quando Ela olhou para a ementa e leu edamame, parecia que tinha visto o George Clooney a passear-se à sua frente de sandaleca enfiada no dedo (não percebo esse fascínio, mas enfim…): a sua boca abriu-se num sorriso do tamanho do da Manuela Moura Guedes. Ela adora estas vagens cheias de grãos de soja e cozidas com sal (€5). Eu confesso que não acho isso tudo, mas Ok.

    A seguir chegou uma salada (€6) fria feita com algas, pepino e uns pickles de rábano simplesmente maravilhosos. E isto era só o princípio do início. As entradas só ficaram completas com um divinal carpaccio de vieiras e salmão (€14) servido com fatias finíssimas de lima, brócolos, algas, couve flor, tomate, alface, ovas e cebolinho. A acompanhar veio uma maionese que ligava lindamente com tudo o resto.

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    Os pratos

    Ela queria o habitual sashimi de salmão, eu preferia alguma coisa ligeiramente diferente daquilo que se come em qualquer shopping (por muito bom que seja). Ela insistiu, eu amuei. E não é que resultou! Com um beicinho inferior em meia-lua, consegui convencê-La a pedir um sashimi – mas de enxaréu (€13). Este peixe, que pode ter mais de um metro de comprimento e que é muito frequente nos Açores, é delicioso, macio e por muitos considerado o novo atum. Aqui é servido com casca de laranja, cebolinho, sementes, alface e um molho com um ligeiríssimo toque de picante.

    Finalmente, chegou aquele que foi o melhor prato da tarde: umas panquecas de marisco, salmão e polvo (€13). Por cima dos crepes vieram umas fatias de atum fumado quase transparentes. Eram tão fininhas que, depois de pousado o prato na mesa, as fatias continuaram a mexer-se como se estivessem vivas. O molho que acompanha é agridoce. Tudo isto é tão bom, tão delicado e tão subtil que, de cada vez que leva uma ‘pauzinhada’ à boca, quase nem se apercebe da massa das panquecas. Ao lado vem também uma maionese, mas esta dispensa-se com facilidade.

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    A sobremesa

    Para acabar o que nós dispensámos foram os gelados de chá verde e outros que tais. Ela insistiu em pedir uma tarte de chocolate e avelã (€6,50) com umas fatias de ananás, laranja e morango a acompanhar. E acertou em cheio. O recheio da tarte parecia uma mousse cremosa. 

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    O serviço 

    Todo este banquete foi sempre acompanhado pela mesma simpática e tímida empregada japonesa. Falava um português esforçado, mas não falhou em nada. Deu os conselhos necessários, esclareceu as dúvidas persistentes e – mais importante de tudo – travou-nos de cometer essa loucura que era pedir mais um prato. De resto, a comida veio rapidamente para a mesa sem nunca deixar sobrepor dois pratos. 

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    O ambiente 

    A decoração é sóbria e minimalista, como se pede num restaurante japonês. Numa das paredes, uma enorme estante aberta de madeira guarda garrafas, louças e uns livros. Noutra, uns peixes desnecessários trepam pela parede. Ao fundo está o balcão onde se preparam os frios e de lado um vidro grande que dá para a foz do Douro. Nós fomos lá num fim-de-semana e estavam essencialmente casais de todas as idades. Havia só uma criança que não se recomendava, tal era o nível de decibéis com que insistia em dialogar com os pais ou a facilidade com que subia de pé para cima das cadeiras.

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    As crianças

    Tem menu infantil com prato, bebida e gelado (€10,50), mas é um restaurante pequeno demais para crianças irrequietas.

    E agora aproveite: o Ichiban está ali à sua espera.

     

    O bom 

    O serviço e a decoração

    O mau 

    A criança em pé em cima das cadeiras

    O óptimo 

    A comida

     

    Um abraço para todos os cozinheiros japoneses onde quer que eles estejam,

    Ele

     

    fotos: ichiban

     

    8 comentários em “quer uma sugestão para almoçar neste fim-de-semana alargado? que tal o ichiban, o melhor japonês a que já fomos

    1. Tem muito bom ar! quando for ao Porto já sei 🙂
      Já conhecem o Tomo, em Algés?
      Não é bonito, nem na melhor localização, mas tem o melhor chef e um peixe que não tem explicação.
      Tradição Edomae Sushi.

    2. Quando as imagens que postam são as do site do restaurante/hotel e não têm nada a ver com o que dizem ter pedido para comer…duvido muito que lá tenham ido e não seja um post meramente publicitário

    3. Olá, Vera
      Nós visitamos todos os restaurantes e hotéis sobre os quais fazemos críticas. Fazemos as visitas de forma anónima, não revelando a nossa identidade, para sermos tratados como qualquer outro cliente. Não aceitamos contrapartidas, nem sequer a oferta da refeição. E é para preservar o anonimato e manter a independência das críticas que não tiramos fotografias e usamos as imagens dos próprios espaços. Como pode calcular, seria difícil manter uma crítica anónima e independente, organizando produções fotográficas nos locais.
      Obrigado,
      Casal Mistério

    4. Mas não precisa de uma sessão de fotos, basta tirar uma ou outra, como milhares de outros tugas o fazem hoje em dia quando estão nos restaurantes.
      Eu não digo que não vão lá, mas a imagem que passa é um bocado essa, não sei se me faço entender…

    5. Olá mais uma vez, Vera
      Percebemos aquilo que está a dizer. O problema é que um casal, que faz dezenas de perguntas sobre a comida e pede vários pratos para provar, ainda estar a fotografar a comida pode levantar suspeitas. E para as fotografias terem o mínimo de qualidade precisam de ser tiradas com uma máquina fotográfica – e não com um telemóvel – e com uma luz adequada.
      E nós levamos muito a sério o anonimato. No entanto, pode ficar descansada: visitamos todos os restaurantes e hotéis sobre os quais escrevemos críticas – e todos de forma anónima, ou seja, sem recebermos mordomias especiais.
      Obrigado,
      Casal Mistério

    6. Fiquei bastante tentado a levar a minha namorada a esse local confesso! Um local que me pareceu bastante agradável! Já à algum tempo que queremos ambos experimentar comida japonesa e esta sem dúvida seria uma boa opção! Apenas fiquei na dúvida o preço final para duas pessoas foi de que valor?

      Muito obrigado 🙂

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