sabe onde pode comer um bom marisco com a melhor maionese do mundo? na nova cervejaria do bairro

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    Chegámos os dois, de GPS em punho, à porta da Cervejaria do Bairro (isto de uma pessoa avançar a caminho de uma certa idade levanta já alguns problemas de orientação no Bairro Alto). Ligeiramente à nossa frente, a relações públicas conversava com um grupo de clientes. Esperámos um pouco. Passados uns segundos, chegou outro grupo de clientes, que esperou ao nosso lado. Finalmente, a relações públicas largou os clientes com que estava a conversar. Olhou na nossa direcção e sorriu. Eu sorri de volta. Ela começou a dirigir-se animadamente para o sítio onde estávamos. Eu comecei a preparar-me para dizer “Boa Noite”. Ela deu mais dois passos e abriu os braços. Eu estranhei. Ela continuou. Conhece-me? Não: passou por nós e foi abraçar o grupo de clientes que tinha chegado depois de nós. E foi assim que eu fiquei com o meu sorriso Pepsodent frisado na boca enquanto a relações públicas distribuía beijinhos pelo grupo ao nosso lado.

    Esperámos mais um minuto (tempo que Ela dedicou a humilhar-me por ter ficado pendurado) e finalmente fomos atendidos pela jovem senhora, depois de ter sentado os amigos. Simpática e sorridente, só faltou terminar cada frase a dizer “caturreira” para eu a confundir com a Super Tia, do Herman José.

     

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    O ambiente

    A Cervejaria do Bairro, aberta em Outubro passado, é essencialmente um restaurante de amigos. A relações públicas conhece grande parte dos clientes. E os clientes conhecem-se uns aos outros. O barulho que mais se ouve aqui são as viris palmadas dadas pelos homens nas costas uns dos outros quando se encontram. É certo que também há alguns turistas, mas a grande maioria da clientela é composta por homens de casaco de malha ou de camisa fashion por fora das calças.

    No meio de toda esta animação familiar, passa uma música soul tranquila que combina com a decoração sóbria e clean do espaço: chão de madeira, paredes claras, candeeiros modernos, pinturas alusivas ao mar e uma cabeça de veado que provavelmente faria mais sentido num restaurante de caça do que numa marisqueira.

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    A ementa

    Sentados numa das duas mesas que nos deram simpaticamente a escolher, recebemos um cesto com três tipos de pão – um bom pão com sementes, umas tostas fininhas e um pão razoável tipo chapata – acompanhado por um azeite com um creme balsâmico ligeiramente doce demais (€1,90 por pessoa). Enquanto dávamos uma primeira vista de olhos à ementa, trouxeram-nos também uma das entradas: uns ovos de cabra que não são mais do que umas boas e muito cremosas bolinhas de queijo de cabra temperadas com ervas, pimenta e azeite e que ligam lindamente com o pão. Esta primeira fase do jantar foi acompanhada por uma boa imperial Sagres que, no entanto, podia estar um bocadinho mais gelada (afinal, marisqueira sem cerveja é o mesmo que feriado sem sol).

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    Os petiscos

    Antes de entrarmos no marisco, não resistimos a experimentar a ceviche de corvina (€8,50), uma moda que se está a espalhar pelos restaurantes portugueses como as praga dos clones do João Baião se espalharam pelas tardes de domingo na televisão portuguesa. No entanto, quando o peixe é tão fresco como o da Cervejaria do Bairro, é uma praga bem-vinda. Especialmente se vier cuidadosamente preparada com cebola roxa, muitos coentros e batata doce cozida quase em puré. O resultado é um equilíbrio fantástico entre o sabor intenso dos coentros e o doce da batata.

    Ao mesmo tempo, chegaram seis fresquíssimas e grandes ostras do Rio Sado (€12) que não são assim tão fáceis de encontrar em Lisboa. Mas se acha que as ostras eram grandes, então não deixe de provar o lingueirão à Bulhão Pato (€9,50), um dos melhores mariscos que o mundo sub-aquático já produziu. Além de enorme e gordo, o lingueirão vem com um molho fantástico, não muito gorduroso e com uns bons pedaços de alho muitíssimo bem cozinhados. E foi este molho que provocou a primeira discussão da noite: Ela queria emagrecer, eu queria comer; Ela não queria torradas, eu queria torradas. E com manteiga de ervas (€1,90). Mas que raio de ideia é essa de ter um prato cheio de molho e não ter torradas para molhar?! Onde é que já se viu um desaforo desses?! Acabei por pedir só para mim. E Ela acabou por comer mais de metade das minhas torradas. Minhas!

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    Para acabar, Ela ainda se deixou entusiasmar por essa última tendência da esperteza nacional que é apresentar os preços dos mariscos mais caros por cada 100 gramas em vez de ser por quilo. É claro que uns carabineiros a €9,90/100g parecem muito mais baratos do que a €99/kg. Mas infelizmente o preço é o mesmo. Acabámos por prudentemente optar por um óptimo camarão de Moçambique a €4,5/100g, que é o mesmo que dizer a €45/kg. O camarão vem para a mesa com uns grãos de sal grosso por cima, muitíssimo bem cozido, com a casca a separar-se do marisco com a mesma facilidade com que uma faca desliza pela manteiga (começa a ser doentia esta minha obsessão por manteiga e outros alimentos com mais de mil calorias por pacote). 

    Mas o melhor não foi propriamente o marisco. O melhor detalhe da noite vinha ao lado, numa pequena taça. Trata-se de uma das melhores maioneses que já comi. E o que é que tem de especial? Uns grãos de caril misturados. Caril na maionese? Exactamente: caril na maionese, o que lhe dá um ligeiríssimo toque apimentado que faz toda a diferença. Para acompanhar, pedimos ainda um óptimo arroz de alho (€2), basmati, muito solto e cozido mesmo no ponto, de tal forma que sente cada dentada que dá em cada bago.

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    A sobremesa

    A noite acabou com uma tarte tatin com uma bola de gelado e uma folha de hortelã (€4,25), que deveria ter sido dividida irmamente, mas que acabou usurpada quase na totalidade pela minha querida Mulher Mistério em permanente dieta. Apesar de ter comido quase 80% da tarte, Ela ainda teve o desplante de dizer que não achou nada de especial. Eu, que fiquei remetido a uns míseros 20% de sobremesa, por outro lado, gostei bastante. A tarte tem um ar meio plastificado, mas sabe muitíssimo bem, com um toque caramelizado no final.

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    O serviço

    Ultrapassado o momento em que fiquei pendurado à chegada, o serviço foi sempre muito simpático e atencioso. Quando tirou os pedidos, o empregado teve o cuidado de perguntar qual a ordem que preferíamos para trazer os pratos. E nunca nos deixou à espera de nada. Enquanto a relações públicas conversava com os clientes amigos, os empregados corriam de um lado para o outro, incansáveis.

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    As crianças

    Não há menu infantil. A única coisa que tem para crianças é um prego do lombo e outro de atum: ambos a €9,90.

     

    O bom

    O marisco muito fresco

    O mau

    O facto de ter ficado pendurado à chegada

    O óptimo

    A maionese de caril

     

    Um bom feriado para si onde quer que o jantar esteja,

    Ele

     

    fotos: cervejaria do bairro; casal mistério

     

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