shiko, a tasca japonesa no porto com petiscos divinais e um peixe fresquíssimo

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    Eu sei que isto pode parecer chocante nos dias que correm, mas aqui não há sushi com queijo Philadelphia. Nem com maionese. Nem com morangos. Nem com compotas. Nem com tudo aquilo que invadiu os restaurantes japoneses em Portugal nos últimos anos e que deixa qualquer japonês com o ar chocado do Warren Beatty no momento da entrega do Óscar para Melhor Filme.

    É verdade: por muito estranho que isso nos possa parecer, a maionese foi inventada em Espanha no século XVIII e não à mesa de um restaurante de sushi, em Tóquio. E é por isso que, cada vez que eu encontro um restaurante japonês que serve sushi sem maionese eu faço uma festa de família. Não é que eu seja um ferveroso militante anti-sushi-de-fusão. Mas, às vezes, apetece-me simplesmente sushi. Sem fusões. Nem confusões.

    Toda esta conversa para lhe apresentar condignamente o Shiko. Não se trata do diminutivo de Francisco Pinto Balsemão, é só um dos melhores restaurantes japoneses do Porto. E digo “restaurantes japoneses” e não “restaurantes de sushi” porque o Shiko tem muito mais do que sushi sem maionese. Além dessa verdadeira raridade em Portugal, o Shiko tem ainda deliciosos petiscos típicos das tascas japonesas. Tudo feito com um peixe delicioso e fresquíssimo.

     

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    O ambiente

    Será que ouviu “tascas japonesas”? Ouviu, sim, e ouviu muito bem. Como no Japão gostam de complicar, não se chamam propriamente tascas: chamam-se izakayas, mas são quase a mesma coisa. A única diferença é que não há croquetes de alheira nem saladinhas de orelha de porco. Mas há deliciosos petiscos para dividir, em cima de uma mesa de pedra, com uma cerveja a acompanhar, num ambiente informal.

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    Acabadinho de remodelar no início deste ano, o Shiko tem um estilo descontraído e informal. A sala é pequena e estreita (para cerca de 20 pessoas, o que pode ser um problema se aparecer sem marcar), a cozinha é aberta, as lâmpadas estão penduradas sem candeeiros e, ao fundo, há um painel na parede com facas de cozinha espetadas. Tudo é simples, mas tudo tem charme.

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    A ementa

    Desde que nasceu esta nova moda de não se trazer logo o couvert para a mesa (ou, pelo menos, perguntar se vamos querer), que eu me baralho sempre no momento da verdade. De facto, o Shiko tem um couvert com três petiscos diferentes (€2 por pessoa), mas infelizmente deixei-o escapar. Ao abrir a ementa – e pressionado pelos Filhos Mistério a pedirem tudo e mais alguma coisa – nem reparei que havia couvert.

    A culpa foi do estado de absoluto embevecimento em que fiquei ao ver a oferta de petiscos completamente diferentes de tudo aquilo a que estamos habituados. A ementa está dividida entre os tais petiscos típicos de tasca japonesa e alguns pratos de sushi. Mas os petiscos são claramente o mais original de tudo – e valem cada mastigadela do seu maxilar.

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    Os petiscos

    Lembra-se que eu disse, no início, que aqui não havia sushi com maionese? Pois é, mas há uma panqueca com maionese japonesa. E tenho de admitir que é qualquer coisa de maravilhosa. Na verdade, chama-se okonimiyaki (€7,20) e tem uma base de farinha, tal como as panquecas – só que esta consegue ser ultra-leve e fofinha. Depois leva uma mistura de marisco e bacon, cebolo, gengibre, alga nori e a tal maionese japonesa. Por cima, ainda tem uma gema de ovo pronta a rebentar e umas finíssimas lascas de katsuobushi – um atum bonito fumado que é tão fininho que começa a dançar à nossa frente como se estivesse vivo. Toda esta mistura de sabores e texturas é verdadeiramente deslumbrante, especialmente quando a gema se espalha por cima de tudo o resto.

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    A seguir a este choque civilizacional – e já com as crianças a exigirem uma segunda dose, porque não conseguiram provar tudo – experimentámos o kimchi de peixe (€6,50). É basicamente uma salada de peixe marinado em vários condimentos coreanos, o que lhe dá um sabor apimentado delicioso. No Shiko, o prato veio com uma combinação de salmão e peixe branco fresquíssimos, cebola roxa, gengibre, alho, azeite de sésamo, algas, legumes e uma fabulosa pimenta coreana. 

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    Os petiscos continuaram com um Nikkei (€7,50) que é um ceviche de peixe marinado em vinagre de arroz e limão, o que lhe dá um sabor cítrico, mas com um ligeiríssimo toque adocicado. A acompanhar vem ainda cebola roxa, alga wakame e pepino.

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    Antes de começar já a julgar-nos pela quantidade de pratos pedidos, a minha querida e prezada Mulher Mistério manda dizer (sim, Ela está aqui ao meu lado) que tudo isto é ultra-saudável – com excepção da panqueca e de uns pratitos de sushi que ainda vieram a seguir… Mas a cavala marinada (€8,50) tem tudo aquilo com que um nutricionista podia sonhar. Além de ser um peixe óptimo para a saúde por causa dos antioxidantes, não traz nenhum tipo de acompanhamento, com excepção de umas saudáveis algas. De resto, é só o lombo da cavala ligeiramente flamejado em cima de uma telha e regado com um fantástico molho de miso e alho que lhe dá um sabor totalmente surpreendente. As crianças adoraram.

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    O problema é que também adoraram o tataki de salmão (€10,50) que veio a seguir e que, depois de flamejado, é coberto por um molho de miso cremoso e suave, e por uma mistura de sete especiarias japonesas togarashi que lhe dão um sabor exótico. 

    E também adoraram…

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    …O sushi

    Eu avisei que esta família gostava de comer, não avisei? Depois dos cinco petiscos que dividimos, ainda mandámos vir mais cinco pratos de sushi, com quatro peças cada. E se nos petiscos a surpresa da combinação inesperada de sabores e de texturas abafa tudo o resto, no caso do sushi percebe-se que o peixe fresco e o arroz bem temperado são quase tudo o que precisamos para sermos felizes.

    O primeiro prato de sushi a chegar à mesa foi o atum forte (€6,40): uns rolos com atum vermelho fresquíssimo e saboroso, cobertos com pepino, algas e ovas ikura marinadas em sake e molho kimchi. As ovas, grandes e suculentas, são verdadeiramente divinais e combinam na perfeição com o peixe fresco.

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    A seguir chegaram os gunkans (€6,80), com umas ovas mais pequenas no topo e com um sabor menos forte, e o escândalo – sim, é mesmo o nome do prato (€5,50): trata-se de um rolo frito de salmão que as crianças adoraram mas que não faz muito o meu género (podia viver feliz e contente sem hot rolls na minha vida). Melhor estava o salmão skin (€4,80), recheado com a pele bem crocante do salmão; e muitíssimo melhor estava o carapau valente: uns uramakis de um carapau delicioso com gengibre, cebolinho, molho picante e beringela marinada em miso.

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    As sobremesas

    Para mim, é o pior dos restaurantes japoneses: gelados de chá verde, cremes de miso e outras invenções criativas não são bem uma sobremesa. Por isso fiquei radiante quando encontrei apenas duas hipóteses de sobremesa na ementa: um merengue de maracujá e frutos vermelhos, da Miss Pavlova (€4,70), e um brownie de chocolate e coco com caramelo, da Baronesa (€4). Como tínhamos vindo de um lanche na Miss Pavlova (confesso que não consigo ir ao Porto sem passar por aqui), experimentámos o brownie, que estava fantástico. Vem com uns flocos de coco ralado por cima e com molho de caramelo. Para finalizar ainda leva umas sementes de sésamo. Resultado: íamos pedir só uma dose para dividir, acabámos por pedir quatro doses para devorar.

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    O serviço

    Numa tasca japonesa que não se limita a servir nigiris e hot rolls, convém ter empregados que conheçam bem a ementa e que saibam aconselhar os clientes. Connosco foram incansáveis: responderam a todo o tipo de perguntas sobre os ingredientes, deram sugestões e foram sempre rápidos, simpáticos e muitíssimo atenciosos. 

    No entanto, no Shiko também podem ser exigentes consigo. No final da ementa, está escrito um aviso: quem marcar mesa para mais pessoas do que aquelas que depois aparecem, paga uma taxa de 10 euros por cada falta. Num restaurante com apenas 20 lugares sentados, compreende-se.

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    As crianças

    Não tem menu infantil, mas tem quatro menus de almoço com preços que variam entre os €10 e os €21.

     

    O bom

    O serviço

    O mau

    O espaço é pequeno demais

    O óptimo

    Os petiscos japoneses, em especial o okonimiyaki e o kimchi de peixe.

     

    Um óptimo jantar japonês para si onde quer que o sushi esteja,

    Ele

     

    fotos: shiko; delightworks; casal mistério

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 

    _________________________

    Shiko
    Rua do Sol, 238, Porto
    De terça a sábado, das 12h30 às 15h e das 19h30 às 23h
    T: 223 239 671
    Não aceita cartões
     

     

    5 comentários em “shiko, a tasca japonesa no porto com petiscos divinais e um peixe fresquíssimo

    1. O meu restaurante japonês preferido!!!! Sem duvida do melhor que já comi, toda a ementa é de comer e chorar por mais 🤤
      Mas, casal mistério, faltou-vos alguns indispensáveis, que será uma boa razão para voltarem ao Porto. Da próxima não se esqueçam do frango como entrada, e como sushi, os uramaki, e o salmon skin 😍😍😍
      Vale tudo a pena!!!

    2. Nós adoramos o shiko, mas começamos a nossa expriência na SHIKA a unidade móvel do chefe Ruy Leão onde o sushi era/é ótimo. Parabéns CHEF…MMVV.pt

    3. Sem dúvida uma tasca que vale a pena visitar, principalmente para os amantes da cozinha japonesa! Peixe bastante fresco e bons petiscos.
      Concordo com o aspeto negativo do espaço demasiado pequeno! Senti o mesmo quando o visitei.

    4. Parece-me muito bom. Mas mais uma vez estão a realçar um restaurante que há igual ou melhor tbm no Porto e que já vi que não dão o devido reconhecimento da tradicional comida japonesa. E sim sem maioneses e afins. Aproveito para deixar aqui o nome é que tenham boas degustações a quem quiser experimentar. Chama-se Ichiban.

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