taberna das flores, a maior desilusão da semana

O ambiente

É provavelmente um dos restaurantes mais originais e bem apessoados que se apresentam hoje aos nossos frágeis olhos.

Primeiro a originalidade. Além de restaurante, a Taberna das Flores é também florista. Quando entramos, do lado esquerdo temos um canto com um sofá e um discreto balcão inundado de flores. Aqui podemos escolher e comprar ramos de vários tipos. Além de ser uma forma de dar vida e frescura ao restaurante, é quase uma deselegância não levar uma pequena surpresa daqui se estiver num jantar a dois – a minha sorte é que, em vez de jantar, foi almoço; e, em vez de “a dois”, foi “a quatro”. Logo, consegui justificar a imperdoável desatenção com a necessidade de não deixar o outro candidato a cavalheiro numa situação constrangedora.

Todo decorado com madeira clara, as mesas têm tampos feitos com paletes recuperadas, as cadeiras têm diferentes cores e feitios, os candeeiros têm garrafas penduradas e as paredes têm uma cobertura de ripas rectangulares onde ainda se vêem os nós das árvores. Pelo meio, há flores e vasos espalhados pelas salas, a darem cor aos recantos e aos detalhes. 

E foi neste ambiente cheio de vida, bom gosto e imaginação que eu entrei com um sorriso de tamanha satisfação que quase me deixou com uma cãibra na bochecha esquerda. Mesmo quando olhei para a ementa, nada podia fazer prever a pequena desgraça que se adivinhava.

A ementa 

O primeiro sinal da desilusão chegou com o couvert. As azeitonas estavam óptimas, mergulhadas em azeite e tenrinhas, mas ao lado vinha um pão (UM pão, leu bem) e um pouco de azeite com balsâmico. Um pão para quatro pessoas dá um canto por pessoa. E, sendo um pão de sementes, quase consegui contar exactamente quantas sementes comi. 

Como pratos principais, pode escolher de entre seis pizzas, três risottos, três massas ou alguns pratos mais tradicionais: bifes, picanha, bacalhau, atum, etc.. Além disso, tem entradas com uma descrição prometedora na ementa, como tartare de atum com gengibre, limão, alcaparras e pimenta (€11,80) ou cogumelos portobello salteados com presunto e queijo em molho de vinho (€8,90).

Em dia de correrias, havia tempo para um bom prato principal e pouco mais. Eu pedi umas bochechas de porco preto com puré de maçã e legumes salteados (€11,80) e Ela um bife de picanha com batata gratinada e salada verde com parmesão (€13,80).

As bochechas estavam tenrinhas, mas o molho intenso demais retirava qualquer sabor à carne. O puré também estava muito forte, tornando todo o prato relativamente desagradável.

Mas o pior foi o bife de picanha Dela. Primeiro, devia ter vindo mal passado e veio em estilo sola de sapato velha, já a fazer uma curva para cima. Depois, não houve sequer o cuidado de cortar a carne de forma uniforme: as fatias vinham às ondas como se fossem o Oceano Atlântico em dia de anticiclone dos Açores – no meio chegavam a ter dois dedos de altura e nas pontas, não chegavam a um dedo mindinho. Salvavam-se as batatas gratinadas e a rúcula com parmesão.

O desalento Dela foi tal que nem tive coragem de pedir no final o supremo de coco (€3,80) com que estava a sonhar. Perante aquela cara de Basset Hound de orelhas para baixo, limitei-me a pedir os cafés e ir chorar baixinho para a frente do meu computador.

O serviço 

Fomos bem atendidos e, apesar de não termos feito reserva, arranjaram-nos uma mesa rapidamente. De resto, a comida demorou um pouco e foi preciso pedir a conta duas vezes, mas isso acontece nas melhores famílias.

As crianças 

Não tem um menu específico para crianças, mas há pizzas, o que é praticamente a mesma coisa, tirando, claro, o preço.

O bom 

A decoração e a originalidade do espaço

O mau 

O couvert só traz um pão

O péssimo 

A picanha às ondas

Um abraço para as flores onde quer elas estejam,

Ele

fotos: taberna das flores