tem nome de avó mas é um dos restaurantes mais surpreendentes do alentejo

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    Mal peguei na ementa, tinha um recado: “Na sala, há um piano afinado que gosta de receber aventureiros que o queiram experimentar”. Olhei para estas minhas mãos de Lang Lang, olhei para o piano, olhei para a minha querida Mulher Mistério, voltei a olhar para o convite, enchi-me de coragem e decidi: “Não vou fazer os outros clientes passar por isso”.

    Basta olhar para as fases de qualificação do Ídolos para facilmente se perceber que o convite é um passo de gigante a caminho do abismo. Especialmente vindo de alguém que tem amor à música como Jorge Benvinda, músico dos Virgem Suta e dono deste restaurante em Beja.

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    Mas o Vovó Joaquina gosta de correr riscos. Inspirado na avó do cantor, o restaurante herdou o nome de uma das músicas da banda e é uma surpresa do princípio ao fim. Em vez de fazer um restaurante tradicional, Benvinda inovou de uma forma absolutamente surpreendente. E logo a começar por…

     

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    …O ambiente

    Se olhar à sua volta, vê armários carregados de antiguidades, malas velhas no chão, um chapéu de cartola suspenso e sapatos anos 20 encostados à parede.

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    Num recanto, encontra um daqueles manequins que as costureiras usavam para fazer vestidos. Nas paredes, há todo o tipo de fotografias de antepassados, a preto e branco. E, ao fundo, o tal piano antigo à espera de gente corajosa – e, já agora, talentosa.

    Tudo isto num espaço com mesas e cadeiras de madeira tosca, pipas de talha e um chão de pedra típica alentejana.

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    Entrar no Vovó Joaquina é como entrar no Conta-me como Foi. E isso, mais do que bonitinho, é muitíssimo acolhedor.

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    A ementa

    Aqui come-se comida típica alentejana, mas toda ela com um toque surpreendente. Mal entrámos, fomos recebidos por um simpaticíssimo empregado, de uma elegância tão grande que deixa o Carson, do Downton Abbey, a parecer o Telmo, do Big Brother. Foi ele que nos acompanhou à mesa, que nos apresentou os pratos e que nos trouxe o couvert (€2,50).

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    Restaurante alentejano sem pão delicioso é como o Bruno de Carvalho sem aquela voz de cana rachada. E, no Vovó Joaquina, o pão é óptimo e vem dentro de um tradicional saco de pano. Ao lado, trazem umas azeitonas verdes pisadas fantásticas, uma manteiga de alho e coentros boa e uma tacinha com flor de sal.

    A ideia é que espalhe o sal, a gosto, por cima da manteiga no pão, o que fica maravilhoso e ainda lhe permite sentir os flocos a estalarem nos dentes, tal como acontece com a fantástica manteiga Président La Motte, com grãos de sal, que eu consigo comprar cá para casa sempre que Ela está distraída. 

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    As entradas

    Embalados pelo pão alentejano e pela manteiga com pedras de sal, pedimos uma boa tábua de queijos (€10) com um fabuloso Queijo de Serpa amanteigado que se destacava claramente dos outros. Ao lado, veio um puré de pêra agradável e cremoso que ajudava a cortar o queijo.

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    Mas o melhor chegou a seguir: um escabeche de perdiz absolutamente divinal. Com uma gema de ovo por cima, vinha com cenoura em Juliana, cebola e um molho à base de vinho que estava perfeito e lhe dava um leve toque adocicado maravilhoso. Eu, que sou completamente obcecado por perdiz de escabeche, fiquei rendido, tanto à consistência da carne como à combinação do molho.

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    A minha querida Mulher Mistério com a obsessão da balança não consegue conceber um jantar, nos dias que correm, sem uma saladinha pelo meio. E, por isso, insistiu em pedir uma salada de polvo que se enquadra tão bem no mundo das dietas assim como o ET se enquadraria na Música no Coração. Mas eu não me arrependo nada da sua insistência.

    Além de o polvo vir macio e saboroso, chegou servido por cima de um magnífico húmus de grão de bico e acompanhado por uns pedaços de cenoura crua, cebola confitada e canónigos. Não tem aquela habitual piscina de azeite onde nós molhamos o pãozinho, mas é uma surpresa agradabilíssima tanto de texturas como de sabores.

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    Os pratos principais

    Depois desta rajada de entradas, eu só pensava quais os melhores e mais longos percursos para ir andar a pé a seguir ao jantar. Especialmente porque os pratos principais tinham tudo o que a Ágata Roquette proíbe terminantemente. A começar, claro está, pelo prato Dela: um aparentemente saudável lombo de bacalhau confitado acompanhado por um hiper-calórico mas saboroso arroz de coentros (€17).

    O bacalhau era bem alto, branco e suculento, ao ponto de se separar em apetecíveis lascas. Mas o que mais impressiona é o arroz de coentros totalmente verde. Além do bom aspecto, vinha molhadinho, solto e a nadar num saboroso molho.

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    Eu preferi uma costeleta maturada do acém (€18), feita com uma deliciosa e muito mal passada carne alentejana que é facilmente suficiente para alimentar duas bocas aconchegadas por uma entrada. A carne vem acompanhada por umas gigantescas batatas cortadas em gomos. Até estavam bem coradas por fora, mas eu confesso que, para mim, batatas fritas à séria têm de ser tão fininhas e estaladiças que nem se sinta o interior. E estas eram claramente gordas e pesadas demais.

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    As sobremesas

    É verdade, nós queixamo-nos do excesso de comida, mas encontramos sempre espaço para uma sobremesasinha. Ou duas, vá… Não é por nós, que não nos apetecia nada, mas por si que está aí à espera de ver a descrição de todos os pratos. E foi com este verdadeiro espírito de missão que nos atirámos a um pudim de amêndoa e gila (€4), acompanhado por um gelado e por um crumble, que estava fantástico e que valeu mais cinco quilómetros de passeio a pé.

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    O serviço

    Ao longo de todo o jantar, o empregado que nos atendeu foi sempre muitíssimo simpático e ainda mais delicado. Ao ponto de, cada vez que se inclinava para servir o vinho no copo, colocar uma mão atrás das costas.

    Antes de sairmos, fez questão de ir de propósito à mesa para se despedir. Apertou a mão dos dois e voltou a meter o Carson num chinelo:

    – Muito obrigado por terem vindo e muito obrigado pela vossa paciência para qualquer coisa que estivesse menos bem.

    É claro que, perante uma simpatia destas, não nos resta outra alternativa senão dizer:

    – Estava tudo simplesmente perfeito! Não houve uma única falha.

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    As crianças 

    Tinha um menu “para os mais pequeninos” com creme de cenoura (€5,50), omelete (€7), pica-pau de vaca (€9) e linguado panado com arroz branco (€8).

     

    O bom

    A decoração vintage e a salada de polvo

    O mau

    As batatas grossas demais

    O óptimo

    O serviço e a perdiz de escabeche

     

    Um óptimo jantar para si onde quer que a vovó esteja,

    Ele

     

    fotos: casal mistério; vovó joaquina

     

    Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial. 
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    Vovó Joaquina
    Rua do Sembrano, 57 Beja
    Aberto de terça a sábado 
    Das 12h30 às 14h30 e das 19h às 22h
    T: 961 302 815

     

    5 comentários em “tem nome de avó mas é um dos restaurantes mais surpreendentes do alentejo

    1. Creio que a gerência já é outra… Já não pertencerá a Jorge Benvinda, pelo menos na totalidade… o novo dono será Eric Wonnink… creio

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