Gosto de bacalhau branco como a bata do senhor da Olá. Gosto de postas altas que se separam em lascas apetecíveis. Gosto do peixe suculento e macio. Odeio bacalhau amarelado, que se enfia entre os dentes ou que custa a mastigar. É por isso que só me comecei a apaixonar por bacalhau quando, já adulto, comprei uma peixeira.
Calma, não fui ao mercado da Ribeira comprar uma senhora com pouco menos de 80 anos e muito mais de 80 quilos. Não. Fui ao El Corte Inglés comprar uma panela que infelizmente os franceses resolveram baptizar com esse nome tão charmoso. Estou a falar de uma panela comprida, em aço inoxidável que mais parece um MacBook com um polimento por cima. A grande vantagem é que, além de imponente, esta panela permite cozinhar o peixe – e especialmente o bacalhau – ao vapor. E isso significa que acabou-se a acumulação sucessiva de bolas de fios de bacalhau na boca.
Feita a introdução, vamos à matéria-prima. Eu sei que o bom bacalhau tem de ser comprado salgado e demolhado pacientemente em casa. Mas também sei que, no dia em que tiver a inteligente ideia de entrar com um bacalhau por uma porta, sairei com uma mala por outra. Aliás, eu próprio compreendo que é difícil viver numa casa que cheira à esquina da rua do Arsenal. Por isso, entreguei-me nas mãos da Riberalves e nos braços da Norge. Se há postas altas, já demolhadas e prontas para mergulharem para a peixeira (a panela), porque é que havemos de estar a inventar? E ontem não havia clima para inventar. Havia, isso sim, o resto de uma broa de milho pronta a ficar dura.
Peguei então na peixeira, cobri o fundo com duas cebolas roxas e cinco ramos de tomilho e coloquei, numa metade, uma courgette e um alho francês cortado às fatias. Na outra metade, pus as postas de bacalhau com a pele virada para cima (se preferir usar lombos, também fica óptimo). Deitei água a ferver até meio das postas e liguei o lume no mínimo, com a peixeira tapada (adoro este nome para uma panela!). Cerca de dez minutos depois, estava pronto. É importante ir vendo quando é que o bacalhau está cozido, porque é muito rápido e os tempos podem variar. Basta verificar como é que ele está junto à espinha. Mal estiver branco, está feito.
Enquanto tudo isto acontecia, coloquei a broa cortada em fatias fininhas a torrar no forno. No final, separei o bacalhau em lascas, pus o molho pesto nas torradas e as lascas por cima. Antes de servir, temperei os legumes com um bocadinho de azeite e sal fino, para não ficarem insossos. E o resultado é este:
Ingredientes para 4 pessoas
– 3 postas de bacalhau demolhado Riberalves (as portas mais altas que encontrar)
– 2 cebolas roxas
– 5 ramos de tomilho
– 1 courgette
– 1 alho francês
– 1/2 broa de milho
– Molho pesto
– Azeite
– Sal fino
Um abraço para as peixeiras, onde quer que elas estejam,
Ele
Só ontem descobri este blogue e tenho que dar os parabéns ao casal mistério.
Está um blogue muito interessante, com excelentes ideias e conselhos.
Quanto ao bacalhau tenho que lhes dizer que eu tinha exactamente o mesmo problema. O cheiro! Era uma tormenta e também eu comecei a optar pelo belo do bacalhau demolhado.
Pouco antes do Natal de 2012 deram-me um bacalhau seco. Grande, alto, com um aspecto muito bom.
Quando me queixei por causa do cheiro deram-me o conselho de o colocar a demolhar com a pele virada para cima e mudar a água de manhã e ao final do dia. Assim fiz. E não é que resulta! Como o bacalhau tinha uns lombos bastante altos, foi necessário deixar a demolhar por 3 dias. Cheiro nenhum, e no Natal foi uma alegria e um consolo. Já há uns anos que não comia um bacalhau tão bom. Fica a dica.
Beijinhos
Inês
Olá, Inês
Bem-vinda ao blog do Casal Mistério. Ficamos muito satisfeitos por ter gostado do blog e esperamos que continue a visitar-nos com frequência. Muito obrigado também pela dica. Eu gostaria de experimentar, mas infelizmente cá em casa não entra bacalhau seco sem a aprovação por escrito da minha querida mulher mistério 😉 Regras são regras e eu não me atrevo a desrespeitá-las. Se conseguir a aprovação, digo-lhe qualquer coisa…
Obg,
Ele
Parece-me delicioso 🙂 só não tenho uma peixeira…
Broa frita! (eu sei que essa foi torrada)
Ainda esta semana comi broa frita em azeite e depois salpicada com orégãos secos. Que maravilha.
Um dos meus irmão faz broa em forno de lenha, receita da minha Mãe que sempre a fez, de milho e com algum centeio. Fica escurinha (ao estilo broa de Avintes) e deliciosa. Experimentem frita que vale a pena.
Se não tem peixeira, experimente cozer o bacalhau em azeite, também em lume brando, durante cerca de 7 a 10 minutos. Vai ver que não fica nada mau… Depois diga-nos como correu 😉
Adoramos broa de Avintes. Vamos experimentar frita. Parece delicioso
“Aliás, eu próprio compreendo que é difícil viver numa casa que cheira à esquina da rua do Arsenal”, gostei disto.
Mas que fica muito mais económico comprar o bacalhau a nosso gosto (e eu não sei comprar, peço à funcionária que me ajude) e tê-lo sempre ali, do nosso jeito para qualquer cozinhado…
Um prato muito simples.Não tenho peixeira (utensílio). Mas quem sabe, numa loja de ferragens o encontre.
Tenho aprendido umas coisas.
Obrigada.
É verdade, tem toda a razão quanto ao bacalhau, mas regras são regras ;). Sobre a peixeira, experimente cozer o bacalhau em azeite, em lume brando. Também fica óptimo 😉