Entrar no Sushisan do Saldanha, em Lisboa, é como embarcar num avião de uma companhia low cost. Não é que tenha uma hospedeira à sua espera à entrada, mas tem a expectativa tão baixa como o investimento em manutenção de um avião da Ryanair.
O ambiente
O espaço é confuso e barulhento. Nós chegámos por volta das 13h, sem reserva, e já tínhamos um grupo à nossa frente à espera de mesa. À volta, as mesas estavam cheias e a densidade sonora atingia o nível do Mercado do Bolhão em hora de ponta. Ainda ponderei ir buscar ao carro o megafone que uso em casa para meter as crianças na ordem quando não vão para o banho, mas optei por recorrer à linguagem gestual para comunicar com a empregada que nos recebeu.
Apesar da confusão, cinco minutos depois já estava sentado a uma mesa num canto – foi a vantagem de sermos só dois – e seis minutos depois, tinha duas ementas de plástico à minha frente. Até aqui, low cost no seu melhor: confusão, rapidez, eficácia e ementas de plástico.
Mesmo a decoração é um convite a não ficar ali muito tempo: paredes pretas soturnas, desenhos abstractos em encarnado meio assustadores e umas cadeiras de plástico que lhe deixam o rabo semi-congelado ao sentar-se. Em alternativa, tem sempre uma esplanada no passeio da rua – mas aí ganha no barulho dos carros aquilo que perde no barulho de uma sala a abarrotar com pessoas a falar no tom de voz da Cristina Ferreira.
No entanto, tudo isto desaparece no preciso instante em que o primeiro prato de comida chega à mesa.
A ementa
Antes, convém, contudo, falar dos preços, o verdadeiro golpe low cost do Sushisan. Um almoço de rodízio de sushi e sashimi por €12,90 é quase tão atractivo como uma viagem Lisboa-Porto por €30. Com uma vantagem: aqui não precisa de se sentar com a mala ao colo.
O rodízio está algures entre a qualidade do Sushic e o preço do Noori. Primeiro, vem para a mesa um rolo de Hot Philadelphia, feito com salmão, cebolinho e queijo creme, que eu dispensava, mas que Ela comeu com entusiasmo – falta de prática em rodízios: a primeira ronda é a que traz as salsichas e as carnes piorzinhas para não nos deixar muita área estomacal para a picanha – e uma sopa miso agradável – como enche pouco, pode-se comer à vontade.
Mas depois chegou a grande surpresa: um combinado com 40 peças, feitas com um peixe fresquíssimo e bem cortado e umas misturas absolutamente surpreendentes. Se está à espera de sushi puro e tradicional, este não é o local para si (apesar de terem vindo para a mesa 12 fresquíssimas peças de sashimi de salmão, atum e peixe branco). Agora, se gosta de sushi de fusão – meus caros amigos e camaradas (já estou a adoptar a linguagem do próximo Governo…) – este é o paraíso na Terra dos preços baixos.
O festival começou com uns divinais rolos de salmão braseado recheados com tempura de salmão e salpicados com um molho agridoce. O crocante da tempura combinado com a frescura do salmão funciona de forma perfeita. Mas há mais. Na selecção do chef, vêm também uns óptimos gunkans de salmão com cebolinho picado por cima e outra combinação com arroz por fora, salmão cru no topo e tempura de salmão por dentro.
Há ainda umas boas combinações com morangos frescos e uma última deliciosa opção com a pele de salmão em crosta por fora e atum picado com molho teriyaki por cima.
Acabada esta degustação, chega a melhor notícia: pode pedir para repetir o que quiser, tanto as entradas como peças específicas do combinado. Nós repetimos a tempura com o salmão por fora, os gunkans e o sashimi que estava realmente fresquísssimo. E podíamos ter continuado assim, a repetir e a repetir e a repetir, até à hora do jantar ou até rebentarmos como a personagem dos Monty Python, no filme O Sentido da Vida (pense bem antes de clicar no link, são imagens eventualmente chocantes).
No entanto, optámos por nos retirar apenas com um café Nespresso (€1,20), o que é um óptimo sinal para um restaurante low cost.
O serviço
Foi sempre rápido e eficaz. Os empregados não têm muito tempo para ficar à conversa com os clientes porque têm mais do que fazer, mas foram simpáticos e competentes. O único detalhe que merece um pequeno reparo ocorreu quando a minha prezada Mulher Mistério resolveu pedir um copo de água a acompanhar o café e a empregada apareceu com um copo de plástico, enquanto se justificava:
– Tem de ser assim.
Ficámos com uma dúvida existencial: “tem de ser assim” porque Ela pediu um copo de água da torneira ou porque acabaram os copos de vidro?
As crianças
Não tem menu infantil.
O bom
O sushi
O mau
A decoração
O péssimo
O barulho
Um óptimo almoço para si onde quer que o sushi esteja,
Ele
fotos: sushisan; casal mistério
Nota: Todas as despesas das visitas efetuadas pelo Casal Mistério a restaurantes, bares e hotéis são 100% suportadas pelo próprio Casal Mistério. Só assim é possível fazer uma crítica absolutamente isenta e imparcial.
Cuidado, a manutenção de aviões tem regras iguais para todas as companhias
Pena não terem ido ao sushi factory (no lx factory). Dos mesmos donos, exatamente a mesma frescura e a combinação de menus, mas o espaço é muito mais agradável. Não acho nada que tenha o mesmo preço que o noori, fazendo bem as contas o noori fica bem mais caro. cumprimentos.
desde que fui ao sushisan que ja nao gostei de sushi da mesma forma. gostei do sushi da entrada, mas estava a dar musica horrivel, barulhento e depois estragam aquele sushi fresquinho com injeccoes de mayonese! porque????? sem a mayonese tinha sido uma delicia
Esta vossa visita foi há quanto tempo?
Foi no fim de Outubro/início de Novembro.
Só concordo com o barulho, e as cadeiras São de madeira pintada. Ver bem primeiro, e depois opinar…
Madeira pintada ou plástico, o rabo fica gelado ao fim de um tempo e não são nada cómodas.
Fui lá há duas semanas com um grupo de amigos para um almoço de aniversário e fomos super mal tratados pelos empregados. A certa altura, e como eramos um grupo grande, as conversas paralelas, as gargalhadas, o barulho é normal. Mas o que não é normal é um empregado no meio da sala dirigir se para nos com um grande “SHIU”! ficamos todo incrédulos com a situação, nem estávamos a acreditar. Ainda por cima a sala estava praticamente vazia, só estavam maia quatro pessoas a almoçar.
Viva Casal Mistério!
Tenho acompanhado algumas das Vossas crónicas com agrado. Nesta concretamente suscita-me algumas dúvidas:
Acreditam mesmo que estavam a comer peixe “fresquíssimo” por 12,90€??? O Escolar(manteiga) por exemplo, conhecem a origem deste peixe? Há quanto tempo teriam sido feitos os rolos que comeram, para serem servidos com a rapidez necessária de um ambiente de fast food? O porquê de tanta fritura e tanto molho se o peixe é fresco? Este comentário pretende só e apenas desmistificar o conceito de bom e barato e alertá-los para o facto de estarem a comer peixe crú, já com algum tempo de confecção, na crença de que estão a comer bom e barato.
Um saco de nori de qualidade média é caro, a soja de qualidade média é cara, a mistura do arroz é cara… Uma coisa não é compatível com a outra, acreditem de uma vez por todas!