Eu, pecadora, me confesso: nunca tinha explorado o parque Peneda-Gerês a sério. Tinha lá ido, dormido em hotéis perto do parque, lembro-me de, em miúda, ter passado lá uns dias, mas nunca tinha percorrido o parque como deve ser. E mais do que um pecado, é um crime. Grave. Gravíssimo, porque o parque do Gerês é simplesmente deslumbrante. Consegue ser lindo, encantador, mas ao mesmo tempo imponente e sedutor. Desde os miradouros aos lagos, às inúmeras cascatas e aos caminhos pedestres, é tudo de cortar a respiração. Já para não falar da incrível vegetação que nos remete para um qualquer país tropical. Não é à toa que foi classificado como Reserva Mundial da Bioesfera pela UNESCO. E a comida, meu Deus?
Mas vamos por partes, como dizia o esquartejador. Percorremos o parque de uma ponta à outra ao volante de um SEAT Ateca Xcellence, o carro ideal para percorrer aqueles trilhos, porque parece um jipe só que é muito mais confortável. E concluímos que precisa de pelo menos 2 dias para ficar a conhecer o parque minimamente bem. Uma nota: nós fomos no Outono e ficámos encantados com os tons típicos da estação por todo o lado, no entanto, se puder, vá na primavera ou no verão, quando as temperaturas são garantidamente mais agradáveis mas quando infelizmente também há mais gente.
Dia 1
Na primeira noite, dormimos na mítica Pousada da Caniçada, que foi alvo de obras de recuperação e expansão e tem uma vista de sonho para a barragem com o mesmo nome, em pleno Rio Cávado. A pousada é um enorme chalet de montanha situado no alto da serra, onde se ouve o som das cascatas e das florestas que a rodeiam. Não há nada mais agradável do que estar à lareira a olhar para a vista lá fora enquanto bebe um copo de vinho e se delicia com uns aperitivos.
As salas de estar e de jantar têm uma vista deslumbrante e não nos cansamos de olhar lá para fora através do enorme vidro que separa as salas do terraço, mas infelizmente não ficámos até muito tarde porque no dia seguinte tínhamos de acordar cedo para ir explorar o parque.
Primeira dica: não ponha Gerês no GPS. Vai parar à vila que não tem muito para ver. Só tem hotéis e restaurantes. E o Parque Nacional da Peneda-Gerês estende-se desde a Serra do Gerês, a sul, passando pela Serra da Peneda até à fronteira com Espanha. Por isso, fomos diretos às cascatas mais famosas do parque: a primeira foi a Cascata do Tahiti. Na verdade, chama-se Fecha das Barjas e é um lugar mágico: a água é do Rio Arado e fica perto da aldeia comunitária da Ermida. É uma das cascatas mais concorridas do Parque Natural Peneda-Gerês, tal como a Cascata do Arado.
Além de ser uma das mais visitadas, tem bons acessos. A água é transparente, formando em baixo uma lagoa em tons de verde que nos remete para o anúncio do gel de banho Tahiti Duche, dos anos 90. E claro que o meu querido Marido Mistério ficou encantado com a Fonte do Rio Arado. Aliás, ficou encantado com todas as fontes. Acho que conseguiu parar em todas as que vimos para experimentar a água “pura e fresca”. Santa paciência! Vou direta para o céu sem passar pelo purgatório. Não tenho uma dúvida.
Por falar em céu, a 3,5 km da cascata do Arado e a 829 metros de altitude, encontra o Miradouro da Pedra Bela. Que sonho! Que vista deslumbrante. Vemos a barragem, o rio, montanhas de um lado e do outro, eu sei lá! Que spot para namorar! O acesso está indicado e consegue estacionar o carro num pequeno parque mesmo ao lado do miradouro.
Também vale a pena ir espreitar o Miradouro da Boneca a cerca de 7 km dali. Com uma altitude de 756 metros, consegue ver o percurso do rio Gerês entre as montanhas, passando pela vila do Gerês, com uma vegetação incrível. E de repente… já é quase hora de almoço. Desça até à vila do Gerês, que se situa a 2 km do Miradouro da Boneca, e visite o Parque das Termas, mas atenção porque só abre de 1 de maio a 31 de outubro.
Com cerca de 2 hectares, é atravessado pelo rio. Repleto de árvores centenárias e com um lago onde pode passear de barco a remos, pode fazer um piquenique no parque de merendas. Já o meu querido Marido Mistério não se contenta com um piquenique. Estava a sonhar com os petiscos regionais do restaurante Lurdes Capela desde que saímos de Lisboa: pratos levezinhos como papas de sarrabulho, cozido à portuguesa, chanfana de javali, cabrito assado no forno a lenha e arroz de pato. Meu Deus, esta malta do norte não sabe o que é uma salada, e ainda bem! E os doces? Era uma vez uma dieta, parte 2756500.
Reservámos a tarde para explorar a Mata de Albergaria a pé para tentar digerir o almoço. O meu querido Marido Mistério sentou-se ao volante do nosso SEAT Ateca Xcellence e teve a excelente ideia de ligar o botão para aquecer os bancos de pele do carro. Que maravilha. Em poucos segundos, senti o calor percorrer-me as costas até aos joelhos, um ótimo contraste com os 6 graus que estavam lá fora.
O nosso destino era a Portela do Homem, junto à fronteira com Espanha. O caminho até chegar aqui é lindo de morrer, com uma vegetação espetacular e com fontes e pequenas cascatas a cada curva. Quando chegámos, deparámo-nos com uma cascata absolutamente deslumbrante: a Cascata de Portela do Homem, com uma cor verde esmeralda e com um acesso relativamente tranquilo pela ponte sobre o Rio Homem.
Depois seguimos as indicações para a Porta do Campo do Gerês e fomos dar à Mata da Albergaria, um dos mais conhecidos bosques do parque, pela antiga Geira ou Via Romana que ligava as duas mais importantes cidades da Península Ibérica: “Bracara Augusta”, atual Braga, em Portugal, e “Astúrica Augusta”, atual cidade de Astorga, em Espanha.
É incrível como ainda se encontram de pé os marcos miliários e algumas pontes com mais de dois mil anos de história. A estrada, com cerca de 5 km, impressiona pelas cores, pelos carvalhos seculares que a rodeiam, pelos rios, riachos e ribeiros, como o Ribeiro da Figueira, com mais uma cascata, cercada de pedras e de uma vegetação exuberante ou o espetacular Rio Maceira.
Foi talvez o percurso que mais me surpreendeu, pelas cores, pela vegetação e pela história. Ao longo da estrada começamos a ver o Rio Homem que desemboca na Barragem do Vilarinho das Furnas. E demos por terminado o nosso primeiro dia porque já estava a ficar de noite e o meu querido Marido Mistério já só pensava no jantar.
Nesta segunda noite, dormimos no espetacular Carmo´s Boutique Hotel, em Ponte de Lima, um hotel de charme onde já tínhamos ficado e contámos toda a nossa experiência aqui, e fomos jantar a um restaurante que elevou o meu querido Marido Mistério ao céu: A Carvalheira. Oh, meu Deus! Ele vai descrever toda a nossa refeição ao pormenor num post muito perto de si, mas posso, desde já, adiantar que comemos aqui alguns dos melhores pratos típicos portugueses de toda a nossa existência. E aquecidos por uma enorme lareira de pedra. Imperdível.
Dia 2
Depois de um pequeno-almoço de luxo no Carmo´s Boutique Hotel, metemos as malas no SEAT Ateca e partimos novamente em direção ao Parque Natural Peneda-Gerês, seguindo religiosamente as indicações do GPS do carro. E a simpatia e educação da voz feminina do GPS? Antes de nos encaminhar numa determinada direção, fazia sempre questão de nos pedir “por favor”! Nunca vi. Sempre: “por favor” vire à esquerda, “por favor” vire à direita ou “por favor” siga em frente. A minha alma estava parva. E nem quando desviámos ligeiramente o caminho para Ponte de Barca, ela se alterou ou se irritou. Um amor.
Fizemos questão de parar em Ponte da Barca porque tínhamos curiosidade em conhecer esta vila encantadora ainda mais pequena do que Ponte de Lima, e não nos arrependemos. Percorremos a famosa ponte, passeámos pelas ruas, pelas praças com as fachadas dos edifícios históricos impecavelmente preservadas, espreitámos a Igreja e passeámos pela margem do rio Lima. Foi um passeio rápido porque o dia se previa longo, mas adorámos.
Seguimos para Entre-Ambos-os-Rios onde confluem os rios Lima, Froufe e Tamente. Junto à albufeira do Rio Lima, descobrimos, além de uma paisagem de tirar o fôlego, um parque de glamping, o Lima Escape, com uma vista deslumbrante e umas tree houses bungalows que elevam o campismo a todo um outro nível.
Nunca fui fã de parques de campismo, mas confesso que fiquei tentada com estes bungalows de madeira, se bem que a decoração dos interiores não faz muito o meu género.
Seguimos em direção à fronteira com Espanha, entre curvas e contra curvas até chegarmos ao nosso próximo destino: o Miradouro de Tibo. Situado a cerca de 800 metros de altitude, com uma vista de cortar a respiração para a Serra da Peneda, vale a pena parar para tirar fotografias ou simplesmente para namorar com esta paisagem.
Se levar uns binóculos, vai conseguir distinguir a aldeia de Tibo e, ao longe, o Santuário da Senhora da Peneda. Por esta altura, já estávamos a morrer de fome. O meu querido Marido Mistério tinha marcado uma mesa à janela d’ O Abocanhado, em Brufe, e não falava de outra coisa. A nossa educadíssima amiga do GPS avisou-nos logo que, apesar de estarmos a cerca de 40 km, ainda estávamos a uma hora do restaurante. E ainda queríamos passar por Germil, uma pequena aldeia de montanha no meio da serra Amarela, em pleno Parque Nacional Peneda-Gerês.
Com casas típicas de granito, com portas e janelas encarnadas, ruas estreitas com a calçada em pedra, num ambiente rural que parece que parou no tempo.
Pelo caminho, vimos os típicos espigueiros ou canastros, onde antigamente se secavam os cereais, a uma distância segura do chão, para poupar as colheitas do apetite dos…ratos. Medo! A verdade é que não vimos um único rato (graças a Deus) e 15 minutos depois chegávamos ao restaurante mais conhecido de Brufe: O Abocanhado.
Confesso que não estava à espera de encontrar por aqui um edifício tão moderno e, ao mesmo tempo, tão bem enquadrado na paisagem. Com uma varanda de sonho e uma vista deslumbrante para o vale do Rio Homem, tem de parar aqui para almoçar.
Mais uma vez, a ementa estava recheada de pratos típicos da região, como bacalhau com migas, cabrito assado no forno, ou pá de veado e javali estufado. Não, também não é um restaurante amigo das dietas. Aliás, é impossível fazer dieta no Gerês. É melhor esquecer. O espaço tem uma localização única, o serviço é muito simpático e a comida é boa, mas não se compara à d´A Carvalheira, cuja ementa é absolutamente divinal.
Acabámos de almoçar tarde e ainda tivemos tempo de ver o pôr-do-sol a caminho da Barragem do Vilarinho das Furnas. Apesar das curvas, é um caminho com uma vista impressionante para onde quer que olhemos.
Perdi a conta à vezes que parámos o nosso SEAT Ateca Xcellence na beira da estrada para tirar fotografias. Só desistimos quando ficou escuro. Nessa altura, partimos em direção à Pousada de Santa Maria do Bouro, em Amares, onde já tínhamos estado há cinco anos e relatámos tudo aqui.
Esta pousada situa-se num mosteiro e é uma das minhas preferidas: pela arquitetura, pela decoração moderna e minimalista perfeitamente integrada num mosteiro do século XII, uma obra impressionante do arquiteto Souto Moura.
Os quartos são clean e espaçosos e o restaurante outro atentado a qualquer dieta: as receitas, algumas herdadas dos frades que em tempos viveram no mosteiro, são uma tentação e a mesa de sobremesas, uma perdição.
Sim, este antigo espaço de oração, tal como toda esta viagem, é um convite ao pecado. Sobretudo, o da gula…
Boa viagem para si, onde quer que esteja,
Ela
Onde dormir:
Pousada de Santa Maria do Bouro, Amares
Carmo’s Boutique Hotel, Ponte de Lima
Lima Escape, Entre-Ambos-os-Rios
Hotel Fonte Velha, Ponte da Barca
Hotel Ribeira Collection, Arcos de Valdevez
Onde comer:
Restaurante da Pousada de Santa Maria do Bouro, Amares
Onde passear:
Barragem do Vilarinho das Furnas
fotos: casal mistério e d.r.
Este roteiro foi feito com o apoio da SEAT
Caros misteriosos, estava a pensar levar o mejor marido e os 3 filho numa escapada de 1 semana ao Gerês. Que hotéis aconselhariam? Agradecida!
Boa tarde,
No fim do post, encontra uma lista de hotéis para fazer este roteiro. Os nossos preferidos são a Pousada da Caniçada, a Pousada de Santa Maria do Bouro e o Carmo´s Boutique Hotel 😉
Boas férias,
Ela