Não sei se foi da lua, da mudança das marés ou do alinhamento dos astros em relação à Terra – mas esta semana estava tudo contra mim. Quando saí de casa para ir ver um espectáculo na avenida da Liberdade, ia com a profunda esperança de conseguir aproveitar o calor simpático que tem estado à noite para jantar no novíssimo quiosque Ribadouro, uma extensão da famosa marisqueira com mesmo nome.
Éramos quatro. Mal chegámos, vimos quatro ou cinco mesas para duas pessoas vazias, mas separadas umas das outras. Tudo levava as almas mais optimistas a crer que seria possível jantar. Aproximei-me do empregado e perguntei:
– Boa noite, tem mesa para quatro?
O empregado olhou à volta e, com um ar de impotência absoluta, respondeu:
– Para quatro, parece que não.
– Mas não é possível juntar duas daquelas mesas de dois?
– Bom, só se for isso. Mas é melhor perguntar ao meu colega porque este é o turno dele.
Sem perceber muito bem porque é que isso o impedia de resolver uma questão tão simples, agradeci e afastei-me à procura do colega, que estava a atender outra mesa. Enquanto esperei, o meu primeiro interlocutor mexia nuns papéis, consultava o computador e levantava uns pratos de uma mesa que tinha acabado de sair.
E foi assim que passei cinco preciosos minutos da minha vida: em pé, no meio das mesas, à espera que o empregado com a função de confirmar se é possível sentar quatro pessoas em duas mesas de dois disponibilizasse 20 segundos do seu tempo para me responder a uma pergunta evidente.
Ao fim dos cinco minutos, o empregado afastou-se da mesa, eu fiz-lhe sinal, ele olhou para mim e continuou em frente. Nesta fase, o meu grilo falante já me avisava de que mais valia desistir. E foi durante esta conversa interior entre mim e o grilo que uma mão me tocou nas costas. Era um simpático inglês que estava sentado sozinho numa mesa de quatro a beber uma imperial e que, vendo o meu desespero, se ofereceu para se mudar para uma das mesas de dois e, assim, não obrigar o empregado a esse esforço sobrehumano de juntar duas mesas.
Agradeci amavelmente e sentei-me com Ela e os nossos dois companheiros de odisseia. Cinco minutos depois continuávamos sentados sem qualquer interacção com os empregados. O primeiro empregado que falou comigo foi inclusivamente à mesa ao lado da nossa para colocar uma nova toalha ao inglês simpático que nos tinha oferecido o lugar – mas não teve disponibilidade para nos trazer a ementa.
Voltei a fazer-lhe sinal e, como resposta, recebi um despreocupado gesto de mão, como quem diz “espera aí um bocadinho que já te atendo”. Nesta fase, já só não me levantava e desertava para não fazer a desfeita ao inglês simpático.
Mas, depois de 17 minutos de desprezo ostensivo, desisti. Dirigi-me à mesa do inglês, agradeci mais uma vez a sua amabilidade, mas expliquei que tinha perdido a esperança de ser atendido ali. Ele fez um sorriso de resignação, enquanto encolhia os ombros, e despediu-se.
E foi assim que terminou o jantar mais rápido da minha vida: durou 17 minutos e nem consegui ver a ementa.
Alguma coisa que me diz que, se calhar, não voltarei lá tão cedo. E eventualmente nem sequer mais tarde.
Um abraço para o Ribadouro onde quer que ele esteja,
Ele
O senhor Inglês percebeu que ali só querem estrangeiros.
Há um mês, em a Madrid, aconteceu-me algo semelhante. Mas não esperei mais de 5 minutos.
Eu acho que devia reclamar.