Ao longe, vê isto…
…depois, aproxima-se um pouco e vê isto…
…mais um bocadinho e já vê isto…
…quando põe o primeiro pé no Museu Machado de Castro, vê isto…
…e quando chega à esplanada e olha à sua volta vê isto…
Agora diga-me lá: estamos ou não perante um caso sério, um assunto delicado, uma questão grave, uma pergunta difícil? É esta a esplanada mais bonita do País?
Resposta: não sei porque infelizmente ainda não percorri todas as esplanadas do País (não percebo como é que não me lembrei disso antes!), mas tenho a certeza de que, neste campeonato, a esplanada do Loggia passou as primeiras eliminatórias e já chegou à fase do mata-mata, como Luís Felipe Scolari gosta de dizer.
O ambiente
Viemos aqui parar quando fomos dormir à Quinta das Lágrimas para escrever esta crítica mistério. No meio de uma noite de calor pouco típica da cidade de Coimbra, queríamos jantar numa esplanada. E, entre os casamentos, os baptizados e as camisas à Jorge Gabriel que enchiam o hotel, os senhores ainda não se tinham lembrado de montar a esplanada do restaurante Arcadas. Viemos, por isso, ter ao Loggia por recomendação de um empregado. No Museu Machado de Castro, colado à Universidade de Coimbra, o restaurante, aberto há pouco mais de um ano, tem uma vista deslumbrante para o Mondego, os telhados da cidade, a Sé Velha e a “cabra”, o famoso sino na torre da universidade que tocava para marcar as horas do despertar e do recolher dos estudantes.
As cadeiras são agradáveis, os chapéus-de-sol são bonitos e até existem uns sofás brancos em que apetece adormecer a ver o pôr do sol. Quando fica escuro, a parede do restaurante ilumina-se, dando uma luz suave e acolhedora à esplanada. E mesmo no interior há enormes janelas que lhe mostram quase toda a vista do exterior.
A ementa
O aperitivo
Mal cheguei pedi um Porto tónico convencido de que iria beber um vinho do Porto branco seco com água tónica e uma rodela de limão. Mas não. O que me chegou à mesa foi um copo muitíssimo bem arranjado com umas quatro ou cinco bolinhas de groselha, duas cerejas cortadas ao meio, uma folha de hortelã e meia rodela de toranja mergulhadas no Porto seco com água tónica. Há muito tempo que não bebia um Porto tónico tão bom, perfeitamente equilibrado entre sabores doces e ácidos. Nesta altura, já o sol começava a desaparecer por trás da Sé Velha.
Por mim, podia ficar assim o resto da noite que estava muitíssimo bem. Mas não fiquei.
O couvert
Com Ela a salivar de inveja para a minha bebida, só a consegui descansar quando chegou o couvert. Bem arranjado, numa caixa de madeira, trazia três tipos de pão: um preto, um de sementes e um branco. Perfeito, se não faltasse o obrigatório: um bom azeite e um pouco de sal. Só depois de pedirmos é que chegou uma garrafa de azeite Principal high selection vintage muitíssimo bom e um frasco com flor de sal.
As entradas
Ela pediu um carpaccio de vitela com rúcula fresca e um cremoso de maçã que estava bom e ainda mais bem servido. Eu arrisquei num gustatio, uma selecção de entradinhas do dia, que dividi com dois dos famintos elementos mais novos da família. Aqui só para nós, acho que Ela escolheu melhor. A minha selecção de entradas incluia uma salada de ovas de bacalhau (boa), uma salada de pota (uma lula gigante) que estava um pouco rija, uma salada de bacalhau com grão (banal), uma salada de atum com feijão frade (insossa), uns cogumelos salteados com bacon (sem graça), uma espetada de chouriço e abacaxi com cebola frita (boa) e umas bolinhas de mozzarella com tomate, picles e azeitonas (razoáveis).
Antes de começar à procura de sinónimos de “alarve” no dicionário para descrever a quantidade de comida que ingeri, devo esclarecer que tudo isto vem em pequenas doses e foi dividido por três. De qualquer forma, é uma entrada muito bem servida para o preço (€8). Só é pena não ser nada de espectacular.
Os pratos principais
Eu e Ela escolhemos uns filetes de salmonete com aromas primaveris (porquê esta necessidade meio Manuel Luís Goucha de complicar o nome dos pratos?!) que depois descobri tratarem-se de uns óptimos filetes de salmonete com um misto de legumes. A criançada dividiu-se entre um bom naco de vitela muito mal passado (não veio tão mal passado como tínhamos pedido) e uns secretos de porco ibérico com migas do chef. Estava bom e estas duas doses chegaram para os quatro (atenção que não estamos propriamente a falar de crianças que comam pouco, para não dizer mais).
As sobremesas
Houve, no entanto, ainda espaço para sobremesas. Um divinal leite creme da Quinta das Lágrimas (os donos são os mesmos), um prato de fruta laminada (quem é que vai pedir uma coisa destas com doces como aqueles que havia, meu Deus?!), uma trilogia de chocolates (um pouco enjoativa demais para o meu gosto, mas que desapareceu em poucos segundos) e aquele que se apresenta como o melhor pão de ló do universo (já não bastava ser o melhor do mundo, agora decidimos subir a parada). Vamos lá conversar seriamente sobre este assunto: o bolo é bom, é muito bom, mas está longe de ser o melhor pão de ló da região centro, quanto mais do universo. Já comi melhores pães de ló em Alfeizerão que se apresentam apenas como pão de ló. Sem melhor, sem mundo e sem universo. Não é muito mais honesto?
O serviço
Muito simpático. Mas tivemos o azar de ser atendidos por uma estagiária que estava a servir à mesa como quem poderia estar a pastar caracóis na Serra da Malcata. Chamou “bolinhas” ao grão, disse que as rodelas de cebola frita eram lulas e demorou uns exactos 37 minutos a trazer o couvert para a mesa. No entanto, não conseguimos deixar de lhe sorrir. A rapariga era tão simpática e o restaurante tão agradável que não fomos capazes.
O preço
Por tudo isto, com um óptimo vinho branco Principal (o tinto acabou de ser considerado um dos dez melhores vinhos do Mundo), pagámos 25 euros por pessoa. O que, para a qualidade da comida e o deslumbramento da vista, é uma raridade.
O bom
O Porto tónico e a comida
O mau
Chamar bolinhas ao grão
O óptimo
A vista
Um bom jantar numa esplanada assim, onde quer que ela esteja,
Ele